#Vilão

Data: 25 de Janeiro 2022 – 25 de Abril de 2022

Local: Avenida Nove de Julho, 50 – Bela Vista, São Paulo / SP

Artista: Ramo

Texto Curatorial

Lorraine Mendes

Quando pensamos nas narrativas da colonialidade, o herói é o salvador. Nessa figura se encerram os princípios e valores da pureza e da nobreza. Como seu oposto, existe o Vilão. Figura a ser combatida, eliminada, com valores, visualidades e origens que muito se afastam da construção do sujeito ideal. A ele são atribuidas as mazelas, a culpa, a violência e os vícios. 

No projeto de sociedade da colonialidade, a vilania tem cor.

Nós, pessoas negras, fabulamos nossas próprias existências a partir de um vazio. Não um vazio de onde se é possível despertar para algo integralmente novo, mas sim de um vazio que habita os escombros daquilo que nos fizeram.

O negro, enquanto invenção da colonialidade, é concebido como tema, objeto, alienado na condição do outro. Aquele que não existe sem o olhar do branco, e por não existir fora dessa vista, pouco sabe de si, de sua história e memória.

Quando nos debruçamos sobre a árdua tarefa de nos encontrarmos verdadeiramente, é preciso olhar para o espelho a partir da luz negra da qual fala Denise Ferreira da Silva. Se olhar no espelho em busca de si é driblar um regime racializado de representação que nos encerrou em uma condição de subalternidade, servidão, violência e desamparo.

A vilania atribuída àquele que porta a negritude é aqui conjurada não só como uma presença em uma ordem social pela visão brancocêntrica. Mas é também deslocada orientando uma outra mirada de mundo a partir do drible-vida. 

O homem negro é aquele fadado ao desaparecimento no projeto hegemônico de Brasil – seja pela morte, dor, prisão ou adoecimento. Dessa maneira, vilão não seria aquele que desafia a ordem e sorri, dança, se cuida, ama e partilha? Dessa forma, percebemos esse sujeito como aquele que não se aparta de si, constrói-se em meio aos escombros, habita a travessia do espelho e, no reflexo, percebe e acolhe o seu igual.