O que fere cura? – Exposição​

Abertura: 30 de setembro 2023 das 14h às 18h

  – 16h: roda de conversa com artistas

Datas: 30 de setembro 2023 a 27 de janeiro 2024

Horários: Ter e Qua – sob agendamento | Qui e Sex – 11h às 19h | Sáb – 10h às 16h

Local: Av Rebouças, 2915 – Pinheiros, São Paulo/SP

Artistas: Barbara Milano e Massuelen Cristina

Sobre: A exposição convida o público a mergulhar em um universo onde a cura e a criação se entrelaçam de maneira poética e transformadora. Através das lentes da fotografia, as artistas exploram temas que abrangem desde sociologia até memórias familiares, traumas coletivos e fenômenos culturais. Com visões profundas e sensíveis, Bárbara Milano e Massuelen Cristina revelam o poder da imagem como agente curativo e de mudança.

Com sensibilidade única, elas abrem caminho para um processo de internalização e externalização, convidando o espectador a se conectar com suas próprias histórias e as histórias que se materializam quando disponibilizadas para uma construção no campo coletivo.

Texto Conceito

Pode uma imagem nos curar? E o processo de criação dela?


A cura, mais do que cessar a dor, é, em si, também um processo de criação. Curar enquanto criação é trazer para a superfície a possibilidade de renomear e ressignificar o que nos constitui ou o que nos aflige. O processo curativo pode ser um momento de aprofundamento e expressão dos elementos que rodeiam essa dor, criando imagens que são alento e ao mesmo tempo plataformas para externalizar e coletivizar sentimentos que nos impedem de viver em plenitude.


Imagens também podem sanar traumas coletivos e dores sociais quando estas se propõem a mergulhar nas possibilidades que a subjetividade humana nos oferece no processo de construção das nossas identidades e como lidamos com a vida em sociedade. Ou seja, nos tornamos imagens, carregamos imagens e nos relacionamos com imagens. Entender estas visualidades e se apropriar da construção das mesmas é garantir uma autonomia sobre o desenho de quem nós somos ou do nosso projeto de sociedade.


As artistas que participam dessa coletiva, Bárbara Milano e Massuelen Cristina, apresentam desdobramentos possíveis da fotografia como expansão de suas pesquisas profissionais, que bebem de temáticas e campos de saberes que abrangem a sociologia, os estudos sobre territórios, memórias familiares, traumas coletivos e fenômenos culturais.


De maneira positiva, suas proposições caracterizam o processo criativo de cada uma a partir de faltas e ausências de imagens, de memórias emprestadas e a busca de um pertencimento junto a repertórios visuais que necessitam se fazer presentes no cotidiano da sociedade brasileira.


A coletiva O que fere cura? , traz consigo a apresentação de duas trajetórias artísticas que se conectam pela centralidade da imagem – capturada pelas lentes fotográficas – mas que se distinguem na capacidade de desdobrar-se em novos imaginários.


Convidamos o público a olhar as fotografias como um espelho, que ao mesmo tempo em que refletem o observador, se misturam com as narrativas das artistas, abrindo caminho para um processo de internalização e externalização, no encontro entre o que é próprio de cada pessoa e como essas histórias podem se configurar quando materializadas no campo coletivo.


A partir de contextos de cura, de resgate familiar e de apaziguamento das angústias contidas em nós mesmos, recria-se um repertório de imagens que são resultantes de um processo que não separa o fazer artístico do objeto final.


O conceito de fotografia ritual, oriundo de pesquisa que Bárbara Milano realiza a partir do contato com o povo huni kuin, resultou em uma postura criativa que entrelaça sujeito e objeto, espectador e participante – a arte implicada na vida. Sua abertura para partilhar histórias familiares, sujeitas a processos de feridas e curas, possibilita um olhar íntimo que se conecta ao trabalho de Massuelen Cristina.


Através de um mergulho em registros de família, Massuelen traz para a superfície dores e possibilidades de rearranjos novos que, mesmo tendo notas autobiográficas (imagens de seus parentes), possibilitam um atravessamento universal sobre processos de ruptura e recomeços no âmbito familiar.


Ao registrarem o que lhes é íntimo, individual ou coletivamente, reforçam a prevalência da fotografia como linguagem e ferramenta capaz de compartilhar culturas, costumes e valores que moldam nossas subjetividades e nos permite nos localizar em relação a nós mesmos e aos outros.


Estamos falando aqui de artistas-pesquisadoras que trazem possibilidade de resgates íntimos com a intenção de narrarem dimensões coletivas, sejam trazendo elementos de um contexto familiar, comunitário, ritual ou recortado por critérios identitários que possibilitam uma análise politicamente engajada sobre os fundamentos que definem nossa vida e organização social contemporâneas.


Trazer pesquisas tão sensíveis como a da possibilidade de cura pela imagem é uma forma de constituir, mais uma vez, o espaço da Diáspora Galeria não apenas como um ambiente meramente expositivo, mas possibilitar a interlocução de seu público e seus artistas, fomentando um espaço-seguro para ver a si mesmo e aos outros.


Resguarda-se, deste modo, o propósito de se questionar a função de uma galeria e a potência que a fruição artística e cultural traz no caminho para uma cura social que não se faz sem o apreço pelo outro, e pelos nossos, simultaneamente.


Que este seja o convite para que possamos expressar um imaginário do que ainda não existe e alargar ainda mais as possibilidades do que nos é real e possível, materializando novas configurações de cura pela arte e pelos enlaces comunitários que nesta exposição queremos tecer.