Datas: 24 de agosto a 09 de novembro de 2024
Horários: Qua – sob agendamento | Qui e Sex – 11h às 18h | Sáb – 10h às 16h
Local: Av Rebouças, 2915 – Pinheiros, São Paulo/SP
Sobre: Nesta exposição, Lara mergulha profundamente no universo da arte têxtil, desafiando percepções convencionais e reafirmando o bordado e a costura no campo da arte contemporânea.
Artista: Claudia Laura
Curadoria: Alex Tso
Texto Conceito
Com uma trajetória que entrelaça maestria técnica e uma sensibilidade única, Claudia Lara emerge como uma voz essencial no panorama artístico contemporâneo brasileiro, retornando à São Paulo, agora, com sua primeira exposição individual na cidade, na Diáspora Galeria.
Originária de Curitiba, Lara já deixou sua marca em instituições renomadas como o Museu de Arte Contemporânea do Paraná, o Museu Oscar Niemeyer e o Instituto Internacional Juarez Machado, em especial pela sua atuação junto ao Coletivo Ero Ere, que reunia 7 mulheres artistas negras da cidade, e cujo vínculo se estendeu até 2021. Sua aproximação com o mercado se entrelaça com a trajetória de importantes agentes do circuito, tendo participado em feiras ao lado do coletivo Nacional Trovoa e do projeto Artistas Latinas. Atualmente, suas obras integram a itinerância nacional da exposição “Dos Brasis: arte e pensamento negro”, organizada pelo SESC, evidenciando seu impacto crescente no cenário cultural brasileiro.
Nesta exposição, Lara mergulha profundamente no universo da arte têxtil, desafiando percepções convencionais e reafirmando o bordado e a costura no campo da arte contemporânea. Seus trabalhos não apenas exploram as possibilidades estéticas dessas técnicas ancestrais, mas também provocam reflexões sobre gênero, raça e sustentabilidade. Utilizando materiais de refugo e tecidos doados, a artista dá vida a composições que são ao mesmo tempo visualmente exuberantes e conceitualmente densas.
A meticulosidade de Lara se revela na complexidade de suas formas, na riqueza de suas sobreposições e na fluidez das teias que cria, onde cada fio conta uma história única. Suas peças transitam entre o objeto e o figurativo, exibindo uma paleta vibrante entre o colorido exuberante e o rendado delicado, convidando o espectador a um mergulho no universo íntimo e acolhedor que suas obras proporcionam.
Com um olhar que transborda feminilidade e sensibilidade, Claudia Lara redefine sua manualidade como um território de experimentação estética e engajamento social. Sua abordagem não só celebra a abundância e o acúmulo de texturas e cores, mas também enfatiza a sustentabilidade como um valor essencial de seu processo criativo. Cada peça é um testemunho da sua habilidade em costurar o cotidiano com o extraordinário, transformando fragmentos em obras que transcendem a mera decoração, tornando-se verdadeiras afirmações artísticas.
Esta exposição na Diáspora Galeria não é apenas um marco na carreira de Claudia Lara, mas também um convite para um diálogo profundo sobre as interseções entre conceito e materialidade. Destinada àqueles que buscam obras que inspiram, as criações de Lara estão disponíveis para todos que reconhecem o valor de peças que contam histórias e que carregam consigo um legado de inovação estética e compromisso com o espírito de seu tempo.
Ao explorar as fronteiras entre o manual e o conceitual, Claudia Lara reafirma seu lugar como uma das vozes mais distintas e essenciais da arte contemporânea brasileira, cativando aqueles que buscam não apenas adquirir uma obra de arte, mas também enriquecer suas vidas com a beleza e o significado que suas criações evocam.
Alex Tso
Textos Críticos
A experiência de conhecer a Claudia Lara foi bastante curiosa para mim. Primeiro foram as pessoas constantemente me falando “quando estiver em Curitiba, você precisa muito conhecer a Claudia Lara”, depois de tanta insistência resolvi procurar as obras que ela produzia e ali senti que comecei a conhecer Claudia Lara.
A primeira coisa que me chamou a atenção foram as cores, sempre vibrantes. Até nas obras que são predominantemente em preto e branco, era possível perceber nuances de cores e sobreposições de tons que criavam essa ilusão de algo tão colorido quanto suas obras mais chamativas. Logo entendi que vermelho era a cara de Claudia Lara, nem a conhecia, mas já a imaginava banhada de vermelhos dentro de seu ateliê, com todas as variantes e possibilidades que essa cor pode oferecer. As obras despertam tantas emoções e abrem caminhos para as mais diversas interpretações que te faz acreditar que você realmente conhece a artista sem nunca a ter visto.
Dessa forma, te convido a conhecer Claudia Lara. Artista curitibana que tem o têxtil como matéria prima da feitura de suas obras, com mais de três décadas de uma vasta produção que engloba temas que perpassam pelas tramas do feminino, da identidade negra, da feitura ancestral, do seu eu e dos eus no seu entorno. Aqui se entende o título Distância Mínima: trata todos esses temas e abordagens entregando o estatuto de arte a toalhas de mesas antigas, lãs, fios e todo tipo de resíduos têxteis que coleta e intervém, criando obras com uma sensibilidade muito particular de Claudia Lara. A artista sabe que essas matérias primas são vistas por muitos como algo inferior, que não cabe no entendimento da Arte com A maiúsculo. Dessa forma estimula a urgência numa revisão historiográfica de uma história da arte já disseminada, repensando o papel do têxtil nessa narrativa e incluindo novas perspectivas para pensar a arte brasileira.
A distância mínima de Lara também se dá entre o individual e o coletivo: ela sempre caminha acompanhada até quando sozinha, seja de seus ancestrais, de suas histórias ou das diferentes colaboradoras que agregam em suas obras. Nada é desperdiçado pela artista, tudo pode ser ressignificado e tece uma longa trama sobre assuntos tão profundos que um pode se perder neles. Aqui temos mais uma distância mínima: Claudia Lara te convida a ir tão longe ou tão perto de suas inquietações quanto você se permitir, não te censura, não te impede. Ela te abraça, te acolhe e te ressignifica.
No contexto da exposição, é possível se adentrar em diferentes fases da artista. Aqui percebemos que ela nunca abandonou suas cores, seus jardins e sua perspectiva única sobre a realidade que a cercava. Seu fascínio pelos pequenos mundos que ignoramos diariamente faz com que essa realidade proposta por Lara seja tão receptiva. Muito começa no desenho, seus traços de grafite são substituídos pelas linhas, ganhando formas mais orgânicas que criam profundidades diversas para suas figuras. De perto é um emaranhado têxtil, mas te convido a observar em todas as distâncias até achar a sua própria distância mínima com as obras de Claudia Lara. A distância que te aproxime dela e da parte de sua obra que mais te toque. Eu me encantei primeiro com as cores, como já disse, mas hoje, quando penso em suas obras, é na riqueza de detalhes e nas infinitas camadas dessas obras que me demoro. Me pego falando para as pessoas “acho que você devia conhecer a Claudia Lara”.
Caminhando pela exposição, tenho certeza de que você conhecerá não apenas a Claudia Lara, mas também todos os outros que compõem essa distância mínima.
Cássia Pérez
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Crescer em um lar com linhas e livros bordou meus dias com gestos e palavras que retomo ainda hoje quando me proponho ao fazimento e refazimento de histórias. Na casa onde cresci havia uma máquina de costura, daquelas bem antigas, com um móvel cheio de gavetas. Lembro de abrir cada gaveta com curiosa admiração pelas linhas, pelo perigo dos alfinetes e agulhas e pelo colorido dos aviamentos. Via ali amontoados de possibilidades que se concretizavam quando minha mãe se colocava a costurar e a bordar sentada diante da máquina que um dia foi de minha avó. Tanto olhei, que aprendi.
Passava dias a fio ao lado de minha mãe criando pontos de crochê, tricô, imagens em ponto cruz e mais um tanto de pontos mais livres que ela, de maneira muito hábil, tecia. Assim passavam os dias, e eu ia crescendo. Fiando e desfiando, compondo histórias ao combinar texturas e cores diferentes, contemplava a urdidura dos dias construindo também a memória das mãos. Ainda agora, enquanto escrevo esse texto e meus dedos cruzam as teclas, juntando letras e compondo significados, volto àquelas tardes ao lado de minha mãe.
Também faço esse caminho de volta quando me aproximo do trabalho de Claudia Lara.
As memórias de ofícios aprendidos pela observação e pelos caminhos de idas e vindas, de tentativas, erros e acertos, cruzam as composições de Claudia de maneira muito particular em cada obra. Ao mesmo tempo em que recebemos o impacto do todo, da forma colorida que nos chega aos olhos como se em festa, podemos viver um tempo percebendo entre camadas e acúmulos os detalhes e tramas que formam sua produção. O bordado, como ofício, tem uma própria gramática que desfia a tradição e os cânones das artes visuais que por muito tempo separaram práticas artísticas em hierarquias que excluíam fatores importantes que aqui vemos e reconhecemos: afeto e memória.
Responsável por dar forma à peça têxtil, a urdidura é formada pelo entrelaçamento dos fios de trama e determina a resistência e estabilidade do tecido. Nas materializações do fazer de Claudia Lara sabemos da urdidura de uma outra maneira: como testemunha de gestos, pontos, cruzamentos e caminhos que bordam o tecido da vida. A beleza de cada obra celebra as materializações do fazer e re-fazer em que reconheço, também, a beleza dos dias preenchidos de pequenos gestos de amor.
Lorraine Mendes
Av. Rebouças, 2915 – Pinheiros
São Paulo – SP, 05401-350
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