Ações inscritas, histórias reescritas

Em cartaz: 01 à 30 de novembro

Local: Virtual (Instagram)

Artistas: Adeildo Eugenio (Massape), Alexandre Anjo (Anjotk), Alexsandra Ribeiro, Amador e Jr. Segurança Patrimonial, Amanda Navarro, Antonio Souza, Beatriz Lira, Bru Yeah, Bruno dos Santos, Camila Parreiras, Carlos Matos, Cat Martins, Crislaine Tavares, Cristielle Moreira, Cynthia Mariah, Daiely da Silva, Diego Crux, Diego Luiz Garcia, Eugênio Chaves, Gilberto Junior, Gisamara Oliveira, Guilherme Moreira, Gustavo Nascimento, Helton Souto, Jane Gomes, Jefferson Skorupski, Jéssica Xavier, Joyce Candeia, Júnior Ahzura, Kalor, KOS, Larissa Souza (Larrio), Letícia Mercier, Lourdes Duarte, Lucas Araújo, Lucas Jesus, Lucimélia Romão, Luiz Lira, M.morani, Marcos Braga, Mariana Rocha, Matheus Dias Aguiar, Mayara Smith, Mitti Mendonça, Monalisa Borelli, Monica Marques, Natália Mota, Nene Surreal, Nina Satie, Ômega Ribeiro, Paulo Copioba, Paulo Zits, Pedro Santana (Pepe), Peter de Brito, Puga Menezes, Régis Rocha (Afrodinamic), Renan Teles, Rhay, Roberto Santos, Robnei Bonifácio, Rodrigo Pedro (PC), soupixo, Talita Rocha, Thiago (Icone K.), Tutano Nômade, Wagner Mello, Wellington Soares, Zahra Alencar, Zylus.

Texto Curatorial

Há exato um ano, a Diáspora Galeria inaugurou suas atividades com o lançamento de uma convocatória aberta inédita no circuito de galerias, em busca de um time de artistas que pudesse representar e assessorar neste primeiro ano de existência do projeto.

O sucesso no grande número de inscritos e portfólios recebidos simbolizou a potência de um projeto como a da Diáspora, e traduziu a urgência e necessidade de visibilizarmos mais a produção contemporânea de artistas cujas vidas e corpos são racializades dentro do sistema social que vivemos e inseri-los no universo consolidado da arte.

Acreditamos que a participação de cada artista nesse processo de seleção foi um sinal positivo para que continuássemos acreditando em um circuito artístico protagonizados por corpos racializados, idéias contra-hegemônicas e narrativas decoloniais, abrindo caminho para que
pudéssemos criar um mercado de arte mais diverso e ideologicamente mais igualitário.

Por isso, apostando na intenção da galeria de manter o contato próximo com todes que participaram da convocatória, celebrando o mês da consciência negra e o ciclo de um ano desde o lançamento da convocatória aberta, propusemos uma iniciativa que pudesse beneficiar todes es artistas negres com quem estivemos tendo contato desde o início de nossas atividades.

Partindo de uma premissa curatorial radicalmente inclusiva, apresentaremos nestes 30 dias consecutivos de novembro a produção de todes es artistas que toparam se reconectar com a galeria para esse evento virtual. Dentre esse elenco há uma variedade de gêneros, linguagens
e territórios que contemplam desde artistas mais inseridos no circuito cultural quanto artistas em início de carreira.

Ao apresentar todes sem uma hierarquia apriorística, visando conexões sutis entre suas produções e seus colegas inscritos, queremos noticiar a riqueza da produção artística negra que ainda se encontra sistematicamente excluída dos grandes canais de chancela institucionais.

Um dos grandes entraves para que o mercado de arte seja mais democrático é a extrema concentração de poder e acesso à informação que às vezes acaba não chegando até os circuitos postos como periféricos, e que infelizmente, mantém um modelo que prejudica diretamente a população e es artistas negres. Sabemos que informação é poder, e diariamente ainda vemos esse poder ser manipulado por uma classe artística que se encontra refém da necessidade de estar intimamente submissa com a branquitude, a cisgeneridade e os players das grandes galerias e instituições museais.

A Diáspora desde o início se propôs a ser essa ponte e canal de acesso à informação e formação de público comprador e produtor. Ao final do processo da convocatória já no começo de 2020 compartilhamos nossas visões, conselhos e devolutivas sobre o portfólio apresentado de maneira livre e leve à todes que solicitaram na época. Queremos derrubar o pedestal que torna o galerista inacessível, queremos derrubar os muros que mantém a população negra aparentemente apartadas do jogo do mercado de arte.

Para isso, a ação virtual, nomeada “Artes inscritas, histórias reescritas” apresenta um panorama do que está sendo produzido atualmente tendo como base 68 artistas que aceitaram nos reenviar seus materiais mais recentes ou significativos em sua jornada profissional, para compor essa grande vitrine que se concretizará ao longo do mês de novembro. Dessa relação com a galeria, hoje estes artistas, que há um ano se inscreveram na convocatória, puderam resgatar o diálogo e reescrever suas carreiras e trajetórias artísticas ao se disponibilizarem para ter suas obras veiculadas em um canal oficial de uma galeria inserida no circuito consolidado da arte.

Precisamos rever os processos de exclusão do mercado, a dinâmica do fetiche e a exotificação que afetam principalmente a participação de corpos negros no mercado de arte. Dedicar por um mês nosso canal de comunicaçao para visiblizar a produção desses artistas negres, de maneira ampla e transparente, é respeitar o processo de diálogo, afetos e cuidado que se iniciou um ano atrás.

Hoje, celebrar a continuidade dessa relação de respeito e carinho com estes artistas que se disponibilizaram a tornar parte nessa ação, não significa somente uma reescrita de suas histórias pessoais e profissionais, mas principalmente da reescrita do papel de uma galeria de arte, que, ainda na atualidade, ainda não se responsabiliza pela influência que tem para as artes no país, deixando a desejar em suas prerrogativas político-sociais, que mantém o status quo, alienam e não fomentam uma verdadeira transformação social e democracia cultural no mercado de arte.

Convidamos todes à acompanhar diariamente nossas redes, e deixar-se surpreender com um pequeno vislumbre de tudo o que esses artistas, de norte a sul, de leste a oeste, do centro às margens, da performance à ilustração, podem criar artística e poeticamente.

*Toda a comercialização das obras apresentadas serão revertidas integralmente aos artistas.