Transbordos: amanhecendo em memórias

Localização: São Paulo, 1979. Vive e trabalha em São Paulo, SP

Organização: Diáspora Galeria
Curadores: Alex Tso e Luciara Ribeiro
Comunicação: Breno Andreata.

A exposição “Transbordos: amanhecendo em memórias” convida o público à transitar pela poética de sete artistas afro-brasileiros contemporâneos, cujas produções apresentam uma variedade de linguagens, técnicas, desejos e escolhas poéticas. Da arte têxtil à street art, da pintura à pirografia, estão reunidas na exposição obras que apresentam a memória do fazer, do pensar e do criar. Tendo o pensamento iorubano como fio condutor para pensar tempo e memória, propõe-se através das obras a criação de variedades relacionais entre o presente, o passado e o futuro, contribuindo para a expansão de nossas visões sobre o fazer criativo e a sua interlocução com uma história da arte que se pretende ser não-linear – de possibilidades de pensar um tempo fluído, dinâmico, e que se reelabora a cada dia, a cada segundo, e a cada nova experiência.

Apresentação

A transformação é colaborativa

É com muita felicidade que recebemos o convite do Shopping Cidade São Paulo para realizar esta exposição dedicada ao mês da consciência negra. A Diáspora Galeria, sendo uma galeria de arte focada em debater questões raciais no circuito cultural, entende a parceria que aqui se materializa como uma oportunidade para compartilhar a riqueza encontrada na produção dos artistas que representa, frutificando ideais de diversidade e atendendo à necessidade de falarmos de subjetividades negras, sem reduzi-las ou estereotipá-las. Na política, no trabalho, na educação ou na cultura, suas contribuições transbordam o escopo de uma data, e precisam ser urgentemente inseridas no ideário social como de importância ímpar em nosso dia-a-dia, nossos meses e ao longo do ano, se buscamos um genuíno comprometimento com a equidade racial, a justiça social e a garantia de oportunidades para todes.

Nosso mais sincero voto é de que esta seja a primeira de muitas ações conjuntas que espaços como o Shopping Cidade São Paulo possam ofertar para a cidade, estando a Diáspora Galeria comprometida em fornecer uma experiência cultural que conecte artistas ao público visitante, visibilizando pautas tão urgentes e necessárias que um mês como o da consciência negra propõe.

Seguimos em luta, seguimos transformando.

Texto Curatorial

Exposição “Transbordos: amanhecendo em memórias”

O tempo é um elemento que marca os nossos corpos, que os organiza no mundo, na experiência do viver. Cada sociedade, época e pessoa tem um modo distinto de definir os processos e deslocamentos temporais. Segundo a visão hegemônica sob a qual os colonialismos europeus foram construídos, o tempo é linear. Caminha apenas em uma direção, o futuro. Sob essa óptica, o futuro é o que ainda não vivemos ou o que não sabemos se viveremos. O passado, o que já foi vivido, o que já existiu e que não podemos modificar e nem retornar. Já o presente, talvez seja o único tempo onde permanecemos de fato. Apesar dessa ser uma forma possível de ver o desenvolvimento do tempo, ela não é a única. Pensar o tempo é uma ação que marca diferentes sociedades e concepções humanas. Como pensar outras narrativas e nos ver sujeitos à uma multiplicidade de atravessamentos de distintas concepções de mundo?

Na sociedade Yorubá, uma das divindades que rege o tempo é Exú, o orixá mensageiro, aquele que conecta o ontem, o hoje e o amanhã. Uma das frases atribuídas à Exú diz que ele “matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje”. Como é possível uma ação do hoje interferir e modificar o ontem? Esse pensamento deixa evidente que em Exú não se vive na linearidade temporal, e sim no trânsito, na dinâmica dos ciclos, das idas e vindas da vida. Partindo dessa noção, perguntamos: Quais pedras do hoje lançamos para o passado? Em um sobressalto do imediato, a memória parece ser uma possibilidade.

Agir em memória é deixar ser atravessado no hoje pelo tempo do passado. Na busca de uma construção poética e afetiva dos nossos corpos, convidamos à todes, todas e todos à visitar a presente exposição deixando-se sentir no hoje o tempo que passou pelas mãos dos artistas, pelas tintas na tela, a costura no tecido, a dobra no papel. A exposição é um convite para ressignificarmos nossas realidades temporais, subjetivas, e criarmos um novo momento no qual, através da arte e da cultura, nos transbordemos em um reamanhecer em memórias.

Alex Tso e Luciara Ribeiro (curadores)

Agradecimentos

A Diáspora Galeria agradece primeiramente ao Igor Oliveira por ter articulado e possibilitado a conexão inédita entre a galeria de arte e o shopping, que com muita empolgação acolheu nossa proposta expositiva neste mês da consciência negra.

À toda equipe do Shopping Cidade São Paulo, em especial ao time de marketing liderado por Débora Viana e Eduardo Alonso, que nos permitiu navegar com tranquilidade pelas demandas e requisitos necessários para tornar a exposição um sucesso e uma conquista compartilhada para a história de ambas as instituições. Também agradecemos à todo pessoal de suporte, da segurança à manutenção, cujas atuações permitem garantir ao público uma experiência prazerosa.

Reforçamos a importância do caráter formativo da cultura. Para tal, parabenizamos a presença de Ellen Caroline da Silva e Rafael Ribeiro Lucio, nossa dupla de arte-educadores que desempenharam papel fundamental na ativação crítica e pedagógica da exposição.

À nossa equipe interna, Luciara Ribeiro e Breno Andreata, pela produção de conteúdo e comunicação que alicerçaram as bases para essa exposição bem-sucedida.

Por último, mas igualmente importante, um agradecimento aos artistas – Claudia Lara, Edu Silva, Eneida Sanches, Lucas Soares, Marcel Diogo, Ramo Negro e Wagner_Janaina que colaboraram com seu fazer artístico, pensamento poético e gentileza de disponibilizar as obras apresentadas em nossa exposição “Transbordos: amanhecendo em memórias” / novembro de 2020.

Alex Tso – sócio-fundador Diáspora Galeria