Territórios Diluídos- Exposição​

1Datas: 15 de fevereiro a 17 de maio de 2024

Horários: Ter e Qua – sob agendamento | Qui e Sex – 11h às 19h | Sáb – 11h às 16h

Local: Av Rebouças, 2915 – Pinheiros, São Paulo/SP

Sobre: Territórios Diluídos reúne obras que transcendem as margens que limitam a percepção, apresentando uma polifonia visual que desafia dualismos e fronteiras. A sala da galeria será povoada por seres híbridos, representando fusões entre máquinas, seres humanos, animais, plantas e entidades espirituais, todos coexistindo em um mundo onde as fronteiras se diluem em campos de cor. As curadoras destacam que “nesta contaminação entre identidades, vemos uma possibilidade de existência para além do sistema binário da cultura ocidental”.

Artistas: Alice Yura, Alissa Cica, Bruna Amaro, Claudia Lara, Cristina Suzuki, Efe Godoy, Guilhermina Augusti, Moara Tupinambá e Yoko Nishio.

Curadoria: Ana Carla Soler e Marina Frúgoli.

Texto Conceito

Vivemos com uma noção de território herdada da Modernidade incompleta e do seu legado de conceitos puros, tantas vezes atravessando os séculos praticamente intocados. É o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele objeto da análise social. Trata-se de uma forma impura, um híbrido
Milton Santos

Em contraposição a uma noção estática de território, utilizada para nomear, delimitar propriedades, conquistar e determinar fronteiras, na presente exposição nos propomos a pensar o território como um corpo com desejos, vontades, anseios e agência.

Em “Territórios Diluídos”, queremos ser uma infiltração, como o mofo que surge no banheiro, mostrando que a vida resiste mesmo no concreto. Queremos romper os limites que separam um do outro, não pela simples derrubada de barreiras, mas pela dissolução de suas denominações. No lugar das divisas conceituais que separam o humano da natureza, dos animais, das máquinas e da tecnologia, nos deparamos com um campo fluido, uma nebulosa de existências múltiplas; um universo em que as fronteiras são banidas, dissipadas, diluídas na cor. Contaminações entre seres que, a princípio, são tratados como entidades separadas, identidades impenetráveis. E que aqui encontram campo fértil para os “eus” serem “nós”.

Se pudéssemos ser plantas, seríamos comestíveis? Seríamos trepadeiras? Já não somos comestíveis? Já não trepamos?

Não são as plantas que nos curam de inúmeras enfermidades? E a medicina, já não nos tornou máquinas? Os óculos, as próteses, as pontes de safena não seriam maquinários que fazem parte de nós?

É possível trocarmos de corpo como quem troca de roupa? Se sim, seguiríamos sendo nós ou nos tornaríamos outro automaticamente? Em um mundo regido pela imagem, quais conflitos são digeridos para permanecermos em coletividade? E o que é excretado?

E se nossas formas perdessem os traços humanos? Por dentro, ainda precisaríamos de pulmão, costelas, coluna vertebral? Seguimos sendo nós se formos gigantes ou minúsculos, reduzidos a pequenas partículas? Qual é o elemento mínimo no qual nos reconhecemos como “eu”? E que tipo de visão macro não alcançamos enquanto conjunto, talvez por não nos distanciarmos o suficiente?

O que acontece quando os corpos se acoplam a dispositivos de vigilância que se propõem a cuidar? É a expansão do corpo ou uma retração dele? Transformar a humanidade de carne e osso em imagens bidimensionais encurta ou amplia distâncias?

Em um mundo maquinal, como pensar para além dos códigos binários?

Para onde pode nos levar o reconhecimento dos rios e das montanhas como nossos ancestrais? A quem interessa seguir sustentando a divisão arbitrária entre humanidade e natureza?

Se Donna Haraway, em seu Manifesto Ciborgue, afirmou preferir “ser uma ciborgue a uma deusa, (…) embora estejam envolvidas, ambas, numa dança espiral”, nesta exposição, sem a necessidade de escolher entre uma ou outra, ou mesmo de propor respostas para uma infinidade de questões, mergulhamos na dança espiral das coexistências, dos discursos múltiplos que confluem, como sugere Nego Bispo. O futuro que se anuncia não está fixado em um ponto, mas em uma contínua metamorfose, onde identidades não se definem por conceitos estáticos, mas pela potência dos encontros.